• Larissa Gargaro
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Emicida e Fioti no backstage armado pela LAB no SPFW (Foto: Ricardo Toscani)

Emicida e Fioti no backstage armado pela LAB no SPFW (Foto: Ricardo Toscani)

Depois de uma elogiadíssima estreia no ano passado, a LAB - comandada por Emicida seu irmão, Fióti - volta a desfilar nos SPFW ocupando um dos espaços mais concorridos do calendário, encerrando esta edição da semana de moda. O tema da nova coleção? Samba.
Mas certamente não do jeito estereotipado que você vê nos comerciais de cerveja...

“A gente não queria ler o samba com ritmo musical - pra gente o samba é muito mais do que isso, é o livro de historia mais f* do Brasil", dispara o rapper em conversa com a Vogue. Inspirado tanto nas vestimentas de ícones como Wilson Batista, Moreira da Silva e Paulinho da Viola, quanto nas origens da música e em relatos de rodas de samba, o inverno 2017 da marca é indiscutivelmente autêntico e desejável, e comprova o amadurecimento da grife de street wear. Na passarela, os já tradicionais conjuntos de moletom da LAB ganham vida nova com estamparia de risca de giz (que aparece também nas super cool jaquetas doudoune oversized), luxuosos paetês que remetem ao confete, uma alfaiataria malandra impecável e muito, mas muito preto.

Peraí: samba simbolizado por uma coleção praticamente toda em preto?

LAB (Foto: Charles Naseh)

LAB (Foto: Charles Naseh)

"O ritmo coloca a gente numa atmosfera gostosa, otimista", explica Emicida. "Mas, se você observar a poética do samba, ele já deu mais alfinetadas [na sociedade] do que o rap, pois surgiu em uma época em que um negro andar com um violão nas costas era crime. O samba sempre foi música de contestação". Na passarela, uma série de looks total black vão, pouco a pouco, dando lugar a tons de vermelho, azul e rosa, até encerrar nos off whites que homenageiam o terno branco, mais tradicional ícone do guarda-roupa dos sambistas.

A evolução do preto aos tons vivos, portanto, surge resgatando o papel do samba como ferramenta de contestação. "A gente quis falar sobre o luto nos dois sentidos, tanto de tristeza, quanto de luta", decreta Emicida, referindo-se ao momento conturbado por que passa o País. "Mas a música é uma válvula de escape que faz com que as pessoas se sintam vivas e que já salvou a vida de muita gente - inclusive a minha", diz o rapper. "Conforme você vai entendendo isso, ela vai colorindo a coleção. Existem muitas camadas num sorriso".

LAB (Foto: Marcelo Salvador )

LAB (Foto: Marcelo Salvador )

Por falar em colorir, quem alegra peças como jaquetas bomber e calças de moletom (que, vale dizer, queremos já) são os bordados da Dona Jacira, artesã e mãe de Fioti e Emicida. Sozinha, ela bordou miçangas, lantejoulas, linhas, canutilhos, tecidos e ilustrações (também de sua assinatura) que contam histórias das origens do samba, de diásporas africanas e da relação da música com o contexto urbano. O casaco que abre a seção dos looks brancos do desfile, aliás, é uma crítica direta às recentes ações comandadas por João Doria (PSDB), que mandou apagar uma série de grafites das ruas de São Paulo. "As partes cinzas da peça fazem alusão à atual guerra do grafite, a essa repressão que a cidade está vivendo", dispara Fioti. 

Pergunto a mensagem final que a dupla quer deixar com seu inverno 2017 - "valorizar o que a gente tem em casa", respondem os músicos -, mas a verdade é que a questão era desnecessária. De tão boa, a roupa falou mais alto; mais alto até que muito samba. 

A coleção desfilada pela LAB no SPFW estará disponível em esquema de pré-venda no site da marca, logo após o final do desfile.

Clique na galeria e confira os looks femininos do desfile realizado nesta sexta-feira (17.03):