Política Lava-Jato

Lava-Jato: procuradores trazem ao Brasil ‘caixa-preta’ de contas bancárias na Suíça

Extratos e movimentações de Paulo Roberto Costa permitirão chegar a outros envolvidos no esquema
Da esquerda à direita, os procuradores Orlando Martello, Deltan Dallagnol e Eduardo Pelella Foto: Deborah Berlinck / O Globo
Da esquerda à direita, os procuradores Orlando Martello, Deltan Dallagnol e Eduardo Pelella Foto: Deborah Berlinck / O Globo

LAUSANNE (Suíça) - Várias pastas cheias” (de extratos bancários). É isso que três procuradores brasileiros estavam levando para o país ontem à noite, após quatro dias na Suíça analisando documentos de contas bancárias do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. O ex-diretor depositou pelo menos US$ 26 milhões (cerca de R$ 65 milhões) no país europeu, dinheiro obtido no esquema de corrupção na estatal.

— Estes documentos vão nos permitir chegar a vários outros envolvidos no esquema — disse um dos procuradores, Deltan Dallagnol.

Os procuradores deixaram a Suíça com a certeza de que o esquema de corrupção na Petrobras tema dimensão bem maior. Segundo Dallangnol, a cooperação com os suíços foi intensificada, a ponto de investigadores suíços terem sido convidados a vir ao Brasil para ver documentos que estão surgindo na Operação Lava-Jato.

— A viagem cumpriu o seu objetivo. Nós saímos satisfeitos. A cooperação foi intensificada — afirmou

nova viagem à suíça em janeiro

Os procuradores brasileiros deverão voltar à Suíça em janeiro. Segundo Dallagnol, quatro dias não foram suficientes para analisar todos os documentos da investigação naquele país:

— Não houve tempo de analisar tudo. A investigação deles é grande. Estão aprofundando bastante a investigação. Provavelmente, eles vão ao Brasil também para tomar conhecimento maior daquilo que a gente já tem lá.

Os investigadores brasileiros manterão o sigilo sobre o que viram nesses extratos. Dallagnol confirmou que as novas descobertas não chegarão a tempo para serem usadas nas denúncias que serão entregues em dezembro à Justiça. As contas de Costa foram descobertas pela Suíça como parte de uma investigação de lavagem de dinheiro sujo naquele país. E são apenas a ponta do iceberg, explicaram os procuradores.

Por exigência dos suíços, os brasileiros deixaram no Ministério Público de Lausanne todas as anotações que fizeram sobre a investigação mais amplas da Suíça, e que vão muito além de Costa. Alegando sigilo total do caso, eles não quiseram dizer se o que os suíços descobriram aponta para o envolvimento de mais brasileiros ou de estrangeiros no esquema da Petrobras.

Dar acesso à investigação e liberar todos os documentos das contas que Costa mantinha na Suíça em diversos bancos foi um gesto extraordinário do Ministério Público suíço, disseram os procuradores.

—Na verdade, a investigação é muito mais ampla do que Paulo Roberto Costa — disse Dallagnol.

Segundo os procuradores, ao investigarem toda a cadeia de pagamentos , os suíços tentam identificar todos os envolvidos, brasileiros ou estrangeiros.

— Eles (os suíços) podem alcançar pessoas que a gente nem imaginava que existissem e que estão aqui também. A ideia é sobrepor o que as duas investigacões (na Suíça e no Brasil) têm — explicou Delton

A investigação na Suíça corre em paralelo à investigação brasileira. E a ideia é cruzar os dados dos dois lados.

— As investigações deles são muito boas, avançaram bastante e a cooperação é ampla. Não estão medindo esforços para investigar esse caso e adotar todas as providências cabíveis — afirmou o procurador Eduardo Pelella, chefe de gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Pelella já marcou sua volta à Suíça para janeiro. Os três procuradores (ele, Dallagnol e Orlando Martello) insistem que o sigilo precisa ser mantido, para que não seja prejudicada a colaboração com os suíços:

Perguntado sobre o que falta para o dinheiro de Costa voltar ao Brasil, Pelella explicou que agora é uma questão de procedimento da Suíça, “que diz respeito ao Ministério Publico suíço”.

Foi o próprio Costa quem pediu oficialmente a transferência para uma conta do governo brasileiro dos milhões escondidos na Suíça. Isso explica por que o Brasil deverá obter a repatriação da fortuna roubada em tempo recorde, semanas ou poucos meses, segundo uma fonte.