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11/04/10 - 07h30 - Atualizado em 22/04/10 - 09h38

Descendentes de confederados celebram em SP o fim da Guerra Civil dos EUA

Festa em Santa Bárbara d’Oeste tem cenário do sul dos EUA do século XIX.
Saiba como alguns americanos vieram ao Brasil pós-Guerra da Secessão.

Amauri Arrais Do G1, em São Paulo

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Mapa localiza as cidades de Americana e Santa Bárbara d'Oeste. (Foto: Arte G1)

Senhores trajando uniformes típicos dos veteranos da Guerra de Secessão americana conversam numa roda, alguns em inglês com forte sotaque sulista, enquanto moças vestidas como a personagem Scarlett O’hara (a protagonista do clássico filme ‘...E o Vento Levou’) dançam a square dance (espécie de quadrilha americana) ao som de jazz, country ou folk tocados por uma banda.

 

Ali perto, barracas ornadas com as cores da bandeira americana vendem hambúrgueres e hot dogs. Todo o cenário remete a uma típica festa do sul dos Estados Unidos, não estivessem os personagens a apenas 130 quilômetros de São Paulo, entre as cidades de Americana e Santa Bárbara d’Oeste.

  

Foto: Divulgação

Mulheres dançam na festa confederada de 2009. (Foto: Divulgação)


É na região paulista que se concentra uma das maiores e organizadas comunidades de norte-americanos no Brasil, muitos descendentes diretos dos primeiros imigrantes que desembarcaram por aqui no final do século XIX. A “Festa Confederada” (ou “Confederate Party”) chega neste domingo (11) à sua 24ª edição e lembra também os145 anos do fim do conflito.

Mas por que comemorar o fim de uma guerra considerada uma das mais sangrentas da história americana, que deixou mais de 600 mil mortos e arrasou com a economia do sul dos Estados Unidos?

  

Foto: Divulgação

Participantes da festa posam a caráter e com a bandeira confederada. (Foto: Divulgação)


“O Cemitério do Campo virou um lugar marcante que evoca lembranças da história dessas famílias, que saíram de uma situação dramática e vieram para o Brasil. Marca a experiência histórica dessas pessoas, um lugar de revitalização de laços e da própria vida da comunidade”, diz o antropólogo John Dawsey, um dos organizadores da coletânea de artigos “Americans: Imigrantes do Velho Sul no Brasil” (Ed. Unimep, 2005), cuja história familiar está ligada à imigração americano no Brasil.

No cemitério fundado em 1868, local da festa, estão enterrados os primeiros imigrantes, tratados como heróis nas homenagens em inglês nas lápides. “Fizemos a festa para poder manter o cemitério. Com isso, a gente cobre esse custo e também faz a confraternização dos descendentes”, conta Nancy Padoveze, membro da Fraternidade Descendência Americana, que realiza o evento.

  

Foto: Divulgação

O cemitério que serve de palco para a festa. (Foto: Divulgação)


Tetraneta do coronel William Hutchinson Norris, considerado pela fraternidade o pioneiro da colônia paulista, ela conta que até hoje só são enterrados no campo os descendentes diretos dos confederados. Mais que uma atitude discriminatória, trata-se de uma reparação histórica: na época dos primeiros imigrantes, os cemitérios católicos brasileiros se recusavam a enterrar os protestantes americanos mortos.

“Não se sabe o que pesou mais: se o fato de serem protestantes ou de serem da maçonaria, mas o cemitério começou no local onde foi fundada a primeira igreja batista do Brasil, que está na terceira construção devido ao solo ruim”, conta Nancy Padoveze (o sobrenome é herdado do marido italiano).

  

Foto: Divulgação

Dança durante a edição da festa em 2009. (Foto: Divulgação)


Nascido na Georgia, o coronel Norris chegou a ser senador pelo Texas antes que os exércitos do industrializado norte dos EUA devastassem econômica e militarmente os estados confederados do sul latifundiário, na guerra entre 1861 e 1865. Veio para o Brasil, segundo a fraternidade, graças ao contato que tinha com a maçonaria (da qual o imperador Dom Pedro II fazia parte) e do interesse brasileiro nas técnicas agrícolas sulistas, principalmente o cultivo do algodão. 

 

 

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    Os americanos então trouxeram o algodão e o arado.Os italianos vieram e desenvolveram o arado. Em seguida, chegaram os alemães e montaram as fábricas de tecido. E assim Americana se tornou esse grande pólo têxtil."

 “O que nossos antepassados contavam é que a região de Santa Bárbara, principalmente, tem um clima e uma terra muito parecidos com o sul dos Estados Unidos. Este foi o motivo para escolher essa região. Os americanos então trouxeram o algodão e o arado.Os italianos vieram e desenvolveram o arado. Em seguida, chegaram os alemães e montaram as fábricas de tecido. E assim Americana se tornou esse grande pólo têxtil”, afirma a tetraneta do pioneiro.

Além das técnicas então desenvolvidas de agricultura, os descendentes dos confederados orgulham-se do sistema americano de educação - considerado modelo pelo governo brasileiro - que deu origem a escolas americanas até hoje em atividade no país, como a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), o Mackenzie, na capital, e o Benedict, no Rio, entre outras. Isso sem falar nos descendentes renomados, como a cantora Rita Lee e a ministra do Supremo Ellen Gracie Northfleet.

 

 

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    É interessante ver como nos Estados Unidos o sul ficou associado com as forças do atraso, enquanto que no Brasil [os sulistas] foram associados ao progresso. "

Boa parte desta história está exposta no Museu da Imigração, em Santa Bárbara d’Oeste, que tem no acervo desde documentos históricos até as primeiras máquinas para o arado trazidas pelos americanos e utensílios domésticos considerados modernos para os padrões do império brasileiro, como moedores de café.

“É interessante ver como nos Estados Unidos o sul ficou associado com as forças do atraso, enquanto que no Brasil [os sulistas] foram associados ao progresso”, diz o antropólogo John Dawsey. Segundo ele, americanos que vão à festa paulista se assustam ao ver a bandeira dixie confederada - nos EUA ainda associada a escravidão e racismo.

Para dona Nancy, responsável pelas apresentações artísticas da Festa Confederada, graças à integração cultural, o evento acabou ganhando sabores brasileiros. “A gente tenta fazer o típico, mas o típico, típico americano mesmo é complicado. Então a gente abrasileirou um pouco algumas coisas para agradar o público. Temos churrasco, hambúrguer, cachorro quente, frango frito. Mas o sabor é bem brasileiro”, diz, rindo. 

  

Foto: Divulgação

Garotas vestidas 'à Scarlett O'Hara posam na festa de 2009. (Foto: Divulgação)

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